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Acordo. Abro os olhos.

Ouço os passarinhos lá fora… começo a sentir o cheiro da cama e aqueeeela preguiça gostosa.

Não demora muito, e logo a mente me lembra que…. hoje é sábado!!

Esse primeiro pensamento desencadeia uma avalanche de novos pensamentos, seguidos de críticas e julgamentos.

Primeiro vem o astronauta explorador: 👨‍🚀

“Hoje é dia de relaxar! Vamos pra praia?”

“Não… espera! Acho melhor ligar pros amigos e ir passear no parque com o cachorro.”

“Hummm, mas será? Acho que só queria andar de bicicleta. ”

“Não não!!! Tem aquele livro maravilhoso que ainda não começamos, vamos? ”

“Mas eu to com saudade da família, vamos passar lá primeiro? E aquela peça de teatro? E o filme? ”

“Putz!!! Tem que lavar a roupa, limpar a casa, fazer mercado, fazer feira….”

E pronto.

O que antes era uma euforia e excitação sobre um universo de possibilidades gostosas para se fazer acaba se transformando em ansiedade.

E é só a ansiedade aparecer, que percebo a voz de um novo personagem dentro de mim, o general crítico 👮:

“Como ouso ficar na cama quando tem tanta coisa pra fazer? Por que não me planejei antes?”

“Caraca! Que perda de tempo! Por que será que eu me saboto tanto? Cadê a disciplina?”

No meio do papo entre o astronauta e o general, começo a perceber uma terceira voz dentro de mim: o hippie paz e amor ✌☮.

“Mas…relaxa! Tá tão gostoso aqui…. abrace sua mulher, chama o cachorro pra cima e curta sua cama! Hoje é sábado bicho!”

Muitas vozes… todas com intenções muito nobres, todas querem o meu melhor. Qual delas seguir?

Qual delas representa o que EU quero de verdade?

Eis que aparece uma quarta voz: o sábio 🧙‍♂️, que me convida a meditar com esse sentimento, antes de dar vazão a qualquer um desses pensamentos.

Sentado meditando, logo percebi quem era o vilão por trás de tudo isso.

Lá estava ela de novo, por trás de todas as vozes:

A síndrome do EU.

Eu…. Eu….. Eu….
Me… Me… Me….
mimimi….

Como todo bom macaquinho que passou a vida inteira atrás das satisfações do EU, fica difícil operar de outra maneira.

Todas essas vozes e personagens são consequência de anos alimentando esse “EU”. Seguindo o próprio interesse, essas vozes me puxam e empurram para um lado e para o outro, criando uma tensão imensa dentro de mim.

Eu achava mesmo que seria tão fácil? Que alguns anos de meditação e serviço ao outro mudariam isso tão facilmente?

E tem mais: o macaquinho não só desenvolveu padrões de pensamento viciados no EU, como também criou padrões de perfeição inalcançáveis para tudo que o EU quer.

Eu não posso simplesmente acordar na minha cama de todo dia e apreciar o calor e o cheiro da minha mulher ao meu lado, e ficar abraçado com ela.

A mente me diz que tudo isso tem que acontecer ao cheiro de incensos, ouvindo mantras, em uma janela com vista ao mar e barulho de ondas.

Eu não posso simplesmente servir a mim mesmo e minha família acordando cedo e lavando a roupa, porque automaticamente isso traz o pensamento de que “essa atividade não é para mim”, que eu deveria “me esforçar para ganhar mais dinheiro e pagar alguém para fazê-lo”.

Que “a energia gasta lavando roupa seria muito melhor empregada se investisse no meu negócio, no meu trabalho, em um curso” e blá blá blá…. a historinha vai looooonge!

O general crítico, aliado à síndrome do EU, fazem com que a experiência humana na Terra se transforme em um verdadeiro inferno.

Afinal de contas, como é possível saciar aquilo que é ilusório? Que não existe?

Indo um pouquinho mais fundo na meditação, observando esse jogo dentro de mim, recebi um insight:

Percebi que todas as historinhas que o “EU” estava contando (estar na praia, ou com amigos, ou com a família, ou estar no quarto com a janela com vista ao mar)eram apenas distrações para esconder sua verdadeira necessidade: de estar pleno e conectado.

O meu macaquinho estava desesperado por aquele estado de espírito. Pelo efeito que aqueles ambientes teriam em mim.

“Caraca, dá pra ser mais direto na próxima? Que complicação!” 👮

Beleza general, já entendi, concordo contigo. Obrigado. 😅

Na hora, me veio uma lembrança muito gostosa de quando eu era criança. De quando ia à praia, e nada mais importava.

A memória RAM da mente estava zerada. Estava pleno e em paz. Sem problemas… Hakuna Matata….

Tudo que importava era cavar a areia a esmo e construir um castelinho. Ouvir o barulho do mar, sentir a água fria no meu corpo contrastando com o calor do Sol.

Que sensação gostosa!

👨‍🚀: “Ei… espera! Essa sensação está aqui! Dentro de mim!”

👨‍🚀: “Quer dizer que eu posso escolher estar na praia, aonde quer que eu esteja???”

👨‍🚀: “WOOOOOOOOOW!!!! Hackeei a porra toda!”

🧙‍♂️: “Menos… é só uma sensação…. mas sim, você pode.”

Abri os olhos, e fui correndo para a cama.

Chamei o cachorro, abracei minha mulher, e olhei pela janela.

Lá fora, só via alguns galhos da árvore de casa.

Mas era como se estivesse vendo o mar. Era como se o quarto estivesse ao som de mantras e cheiro de incensos.

E foi assim que “hackeei” minha manhã no final de semana.

E depois fiz feira, limpei a casa, passeei com o cachorro, vi os amigos, e fiquei em paz em família =)

Tudo com um baita sorrisão no rosto, a memória RAM zerada.

Como se eu estivesse na praia. Porque a praia estava em mim.

# moral da história:

O que queremos não é acordar e ficar mais tempo na cama sem culpa. (distração)

O que queremos de verdade é a oportunidade de relaxar e curtir o momento, de forma presente. (necessidade)

E se queremos relaxar e curtir o momento presente, não pense que fazer isso apenas 1 dia por semana dará o resultado que você quer.

É uma prática.

Albert Einstein já dizia:
“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”

Portanto, se você quer estar presente no sábado de manhã, seja para ficar na cama, seja para fazer o que for, experimente praticar a mesma presença durante a semana.

Se você pode praticar a presença durante os dias de “trabalho”, imagine como serão seus dias de “relaxar”?

Experimente cultivar esse espaço de presença durante esse final de semana, ou, por que não, a partir de agora.

Isso sim, é hackear de verdade. ;D

Seguimos a jornada,

Renato Stefani