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ou desfrute do texto completo a seguir:

Já vem um tempo que percebo uma batalha dentro de mim.

De um lado, percebo um adulto, que conectado com sua essência, faz o impossível acontecer. É responsável, firme em suas decisões, amoroso, tem compaixão, é capaz de expressar sentimentos puros, tem energia de sobra e percebe claramente sua parte na construção de um mundo melhor. Consegue separar as necessidades das distrações.

Do outro lado, percebo uma criança tirana. Uma criança extremamente mimada que faz o possível para ser o centro das atenções de tudo e de todos.

Que pouco se importa com os outros.

Que é pura preguiça: incapaz sequer de levantar da cama da postura de bolinha, ou de fazer coisas simples como trocar o papel higiênico do banheiro, ou sair para fazer mercado.

Que imagina que ” o dia em que eu conseguir XXXXX tudo vai ser lindo maravilhoso.

Que arruma as desculpas mais bizarras para não fazer o que tem que ser feito.

Que é egoísta, ludibria, e só enxerga o pior em cada pessoa e situação.

Que julga, que tem medo. Que se encolhe.

Que só consegue falar com outro ser humano de cima pra baixo, não de igual para igual.

Que vive em uma escassez tão grande que fica em desespero com a falta de comida. A falta de dinheiro….. ainda que essa escassez seja apenas imaginária.

Enquanto consciência, consigo observar tudo isso acontecendo nesse bonequinho humano de corpo, mente e alma.

Consigo perceber e sentir essa programação de escassez acontecendo.

E nessas horas eu lembro que sou apenas um macaquinho:
um ser vivo que possui necessidades sociais, sexuais, de comida e abrigo.

Nessas horas eu fecho os olhos e pergunto pro meu macaquinho: o que está faltando?

Por que você tem que colocar essa criança tirana pra fora? O que falta na sua vida?

As respostas que obtenho do macaquinho são as mais diversas:

“Não quero ter que trabalhar, quero ficar no conforto da cama”
“Não quero ter que interagir com ninguém, lembra quando fomos machucados? Não quero repetir isso.”

Muitas vezes, essas respostas não vem na forma de palavras.

O macaquinho é um ser irracional, puramente instintivo. Tem horas que ele responde na forma de emoções:

Um vazio no peito.
Dores de cabeça.
Sentimento de ansiedade.
Sentimentos de depressão.

E nem sempre a conversa funciona. Às vezes ele se fecha tanto em sua bolha que fica difícil acessar ele. Tudo bem, tento mais tarde.

Essa guerra interna nunca acaba. Ele se repete todos os dias.

Quando compartilhei minha rotina semana passada, recebi o seguinte feedback de um amigo:
“Aaaah, que vida maravilhosa! Quero ver você fazer isso sendo CLT…”

Como se eu não tivesse os meus piores dias, e minhas incertezas, medos e inseguranças.

Adoramos pensar que existem seres humanos que não são humanos como nós.

Doce ilusão.

Tem dias que eu consigo sacar o jogo do macaquinho e não entrar nele.

Tem dias que eu já me vejo dentro do drama e lá se vão horas e mais horas para transmutar esse estado.

E não tem problema, isso faz parte de SER humano.

Feliz é aquele que percebe isso. Que nunca vai existir um “platô”, um final lindo e maravilhoso.

O “platô” é mais uma ilusão da mente humana.

Insistimos em pensar que, uma vez que atingirmos a tão sonhada paz e harmonia, nunca mais sairemos de lá.

A natureza não permite isso. Tudo acontece de forma cíclica.

Assim como no estado de flow, precisamos aprender como esses ciclos acontecem, para aprendermos a surfar neles, e não gastar energia a toa remando contra a maré.

Tamas, rajas e satva.

Inércia, atividade, e harmonia.

Escuridão, movimentação, e luz.

Nós, seres humanos, estamos sujeitos aos 3 estados em toda e qualquer atividade nos prestarmos a fazer.

Para sair da escuridão e inércia, precisamos passar por estados de atividade para enfim atingir paz e harmonia.

E quando você chega na paz e harmonia, a natureza vai fazer de tudo para tirar você de lá.

De novo e de novo.

A infelicidade vem por que o macaquinho quer tudo sem esforço.

Ele quer ir da escuridão para a luz, sem fazer nada.

E nós não sabemos ensinar esse macaquinho de forma correta.

O macaquinho experimenta um brigadeiro e não sabe lidar com a explosão de química que ocorre dentro dele.

Ele quer mais.

Ele julga o que é gostoso e o que não é.

Ele não entende que tudo faz parte do mesmo ciclo da natureza.

Ele é teimoso, e só quer prazer, prazer e prazer.

Ele não se permite ficar triste.

Mas quando ele enfim percebe que tanto a dor, quanto o prazer fazem parte da mesma natureza, ele desperta.

Ele agora toma consciência do ser humano que é. A expressão máxima da consciência do planeta Terra.

Ele age no mundo pelo amor, pois sabe que isso o fará expandir para ser além de um macaquinho.

O problema é que ninguém fala isso para ele.

Ninguém fala desse potencial latente de conseguir ir além dos prazeres da vida de macaco para atingir algo que é imutável.

Por que todos os macacos ao seu redor também estão na busca incontrolável por prazer e conforto a qualquer custo.

Ninguém falou pro macaquinho que a felicidade genuína vem de outro lugar.

Um lugar além do carro do ano e da casa na praia.

Um lugar que ele pode acessar a qualquer momento.

Uma plenitude que brota de dentro.

Quando falam isso pra ele, ele pira.

Ele quer esse lugar, mas ele não consegue, por que ele julga.

Ele tem pânico de fechar os olhos e perceber que é tudo uma ilusão.

Que o modo como ele enxerga o mundo foi condicionado.

Ele tem medo de perder esse julgamento.

Mas quando a consciência por trás desse macaquinho desperta, ela pode ver todo esse drama acontecendo, e não se identificar com ele.

Ela vê o medo acontecendo, e aceita.

Ela vê o prazer e a dor, e aceita.

Ela não vê diferença em nada.

Ela só se percebe consciência.

E enquanto consciência, percebe que ser humano é justamente isso:
equilibrar as necessidades sexuais, sociais e de sobrevivência do macaquinho ao mesmo tempo que expandimos a consciência para além dele.

E que para isso, você primeiro precisa aprender a domar seu macaquinho.

Isso sim, é hackear de verdade ;D