ep# 99 ● E "de resto"? Tudo certo?

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ou desfrute do texto completo a seguir:

“E o resto? Tudo certo?”

“Resto? Que resto?”

“Tudo está fantástico!”

Foi mais ou menos essa a conversa que tive com um de meus mestres, algumas semanas atrás.

Com 0 tolerância pra papo furado, ele respondeu com sinceridade:

“Não existe resto meu caro, só existe tudo!”

Acho que foi uma das poucas vezes que recebi uma resposta não padrão para essa pergunta tão banal e padrão do cotidiano.

Meu mestre tem razão: o “resto” é só uma ilusão, criada para que a mente possa entender o “tudo”.

Quando o relacionamento amoroso não vai bem, o trabalho também não vai.

Quando o financeiro tá “mais ou menos”, isso afeta nossa saúde mental, pois não temos a base necessária para suprir nossas necessidades.

Quando não temos base para nossas necessidades de macaquinho, não temos espaço mental para compreender o espírito.

E ao mesmo tempo, se não realizamos o espírito, a batalha pelas necessidades se faz árdua e sem sentido.

Mas a mente é assim, infelizmente.

Ela precisa separar a “minha vida” em “profissional”, “sexual”, “familiar”, “pessoal”, “financeira”, “física”, “emocional”, “espiritual”…..

É o melhor que ela pode fazer.

É da natureza da mente observar o universo e tentar encaixar tudo em um rótulo.

Ela não vê o arco íris, um espectro múltiplo de cores e entende que todas tem a mesma origem.

Não.

Ela vê preto e branco. Vermelho, laranja, amarelo, azul, verde….

Aaaa, mas e esse azul mais esverdeado?

Azul petróleo.

E esse laranja avermelhado?

Salmão.

…….

A mente é categórica e binária. Está no código fonte dela ser assim.

É 0 ou 1.

E ponto.

Você, ser humano, pouco pode fazer para modificar a natureza dela.

Quer reclamar? Vai falar com o criador.

A grande sacada, o grande “hack” da matrix está aqui:

Se eu posso observar a mente, e apenas aceitar essa programação binária dela de fábrica, a vida fica muito melhor.

A mente não consegue olhar para “tudo” ao meu redor, inclusive a mim mesmo e entender que somos todos parte de algo muito mais grandioso.

Quando ela chega um pouquinho mais perto dessa verdade, ela espana.

Dá bug. Tela azul.

Ela tem medo.

Medo de se dissolver.

Medo de não ter mais serventia.

Chega a ser triste, e belo ao mesmo tempo.

Como posso ser “só” esse macaquinho super desenvolvido, e ao mesmo tempo tudo?

Como pode o mesmo sopro de vida que faz meu coração bater ser o mesmo que sustenta todo esse universo que olho, cheiro, sinto, toco e experiencio?

Quando aceito a natureza da mente, exatamente como ela é, entendo a frase de Rupert Spira:

“Leave the mind as it is, and be as you are.” (Deixe a mente como está, e seja como você é.)

Deixo a mente como está, e apenas existo e sou.

Ela pode trazer os pensamentos mais nefastos ou mais maravilhosos, mas eles pouco influenciam na verdade do meu coração.

Verdade essa que fica cada vez mais presente, sentindo apenas o meu respirar.

Observo o universo ao meu redor e aos poucos crio a aceitação de que “Eu”sou algo muito além dessa mente binária e categórica.

E essa aceitação me faz observar e diluir em todo esse universo que “penso”que experimento…

Mais próximo do “Tudo”, e mais longe do “resto”.

Ou será que próximo e longe também não são a mesma coisa?

E “tudo” e “resto” também? 😉