Anos atrás, antes da revolução do smartphone, a chamada geração X tinha bem delimitado o que era: hora de trabalhar, hora de relaxar, hora de ficar com a familia.

hoje, essa delimitação (quase) não existe.

O avanço tecnológico nos permite transcender tempo e espaço, com a comunicação instantânea ao redor do globo terrestre.

E nosso software interno coletivo acompanha isso: a linha que separa trabalho e diversão está cada vez mais tênue.

Falo por experiência própria: meu whatsapp é um misto de amigos, trabalho, família.

Se estamos no meio do expediente de trabalho, é fácil tirar o celular do bolso e mandar mensagem para um amigo ou familiar.

Assim como é igualmente fácil você estar no final do dia jantando e receber uma mensagem do trabalho.

Tamanha fluidez de “software”, no entanto, não é compatível com o modo como nosso hardware biológico opera.

O ser humano versão 2017 ainda está limitado às leis biológicas e físicas que regem seu sistema: com sentimentos, emoções, pensamentos, hormônios, sistema nervoso.

< transitar de um estado emocional para outro não é algo que acontece instantaneamente como uma mensagem do zapzap. />

Se você já passou longas horas no trabalho até entrar em um ritmo de fluxo, sabe bem que, ao chegar em casa, às vezes pode levar horas até conseguir relaxar.

Do mesmo modo que, ao começar o dia, pode levar horas até você sair da inércia e entrar no fluxo da atividade.

Você sabe o poder que tem uma mensagem de alguém que você ama no meio do expediente de trabalho,

Assim como sabe o poder que uma mensagem do seu chefe no meio da janta pode fazer com que a melhor das refeições se transforme em soda cáustica para seu estômago.

A partir da famosa geração Y (do “carpe diem”, imediatista, do “viva agora”, do “all work and play”), os seres humanos estão cada vez mais acostumados com esse “shift”, essa mudança de estados em rápida frequência, e com isso melhor aliar trabalho e diversão a cada dia….

Mas será mesmo?

Ou será que só estamos nos convencendo falsamente disso?

Eu tenho minhas dúvidas.

Em minha infinita busca pelo equilíbrio entre corpo, mente e alma, tenho feito alguns experimentos interessantes em relação a isso.

Nos dias em que consigo finalizar meu expediente de trabalho até as 18h, para então desligar tudo que se relaciona a trabalho (inclusive o celular) e me dedicar a relaxar meu sistema, tenho obtido ganhos incríveis em felicidade, paz, harmonia, e consequentemente, produtividade.

Nos dias em que isso não acontece, que continuo enviando estímulos visuais e sonoros para meu sistema após esse horário, percebo claramente uma maior irritação, dor de cabeça, falta de criatividade, falta de paciência, pensamentos ruins e catastróficos.

Percebo a necessidade de uma rotina e de rituais de “mudança de chave”para conseguir transitar entre estados de trabalho, atividade, e descanso, relaxamento, diversão.

Hora de descanso é hora de descanso.

Sem hackzinho barato de “aplicativo para amarelar o display”, “óculos para filtrar luz azul”.

Por muito tempo me enganei com isso, e ainda uso quando é absolutamente necessário, mas esses subterfúgios nada mais são do que “muletas”, “hackzinhos” baratos para justificar continuar com maus hábitos.

O ritual é claro: à partir das 20h, tomar banho quente com luzes apagadas, jantar, ficar em ambientes com luzes diminuídas. ler livros com iluminação indireta amarela, ou ter boas conversas longe do celular.

Escrever, tocar música, pintar, desenhar, toda e qualquer atividade que ajude a mente a desligar o modo “fugo-luta” são extremamente bem vindas.

Hora de trabalhar é hora de trabalhar

Após o ritual matinal, é importante despertar a mente: sentar e planejar quais serão as tarefas mais importantes do dia, separar blocos de horas para realizar cada uma, dar tchau pro whatsapp, virar o celular de cabeça pra baixo e fazer o que tem que ser feito.

Ao compreender cada vez melhor o ritmo do meu hardware, consigo ser cada dia mais eficaz.

Entender que o ritmo do hardware nem sempre está alinhado ao software coletivo, e tudo bem ;D